domingo, 18 de setembro de 2011

Hemisférios

Esse texto é meu. Meu porque escrevo e porque sigo as opiniões contrárias. O contrário é sempre o imaginário de meus trajetos. Não sei meu nome — ando de costas para o tempo e não uso resina. Não faço parte de relíquias. Não as tenho. Acordo com um pontapé do sol — mesquinho ou misericordioso — tentando enganar meu mau gosto e vivo feliz em minha fase lunar de não querer ser cartão-postal. Não sou. Não sofro recaídas. Não bebo das águas tônicas desses rios sem profundezas. Sou contrária. Uma mala sem cadeados e, revolta, guardo palavras soltas em minha boca. Falo como quero. Não tenho aquele comportamento primário de sentar ao chegar. Sopro e derrubo portas. Catástrofe prevista ou dedicatória em foto de artista. Sempre entro de mãos vazias — vagas, finas e minhas. Sou toda pronomes. Fui, em antigos dias, arremessada pelo vento que não anda por minha casa. Falo o que me faz bem. Ódio me faz bem. Incerteza transparente me alimenta. Anjos em miniatura e desfaleço limpa após ser desejada por mim mesma. Quero a mim mesma. Desejo dos velhos que esquecem remédios e sou branca. Irmã mais nova das idades. Sou o que venho a dizer e digo. Em todas as letras que me suportam. Grande ou pequenina, pobre ou injustiçada, recolhida e linfática, desfaleço na cama e durmo sem pena. Sem pena e sem roupas. Leio por distração e repito milagres. Sou satélite de céu único e aplauso em cena aberta. Sou o que quero ser. E meu texto é meu e olha para você que olha para mim e vê o quanto sou selvagem. Grave estoque de bondade. Sou pele e músculo com tendências hermafroditas. Sou rebelião fora e dentro e amo com pesar os textos que flagram meu pensamento. Texto que não pensa em meu revestir — pouca trégua para minhas lutas. Sou luta e criatura que vence a madrugada. Morro de dia e, à noite, vivo a continuar. Se há estrelas, admiro. Se elas somem, eu as crio. Não sei o motivo. Ando culpando até a ausência do sol. Essa nossa mania, nossa plangente busca por culpados, carrascos, sentimentos odiosos. Estou me libertando disso ou estarei me entregado ainda mais ao interrogatório? Porque se há um culpado, sou eu. Permanecem a lentidão e as fracas certezas. Culpada por viver tudo e digo mais: que me venha a gota d'água. Que me venha a dose exagerada dos excessos. Porque estou aberta e pertenço a todos os hemisférios. E vivo imensa à apoteose dos acontecimentos.



( Obrigada á querida Letícia pela sua nobreza e generosidade)














Image by Daniela Calumba

Postado por Letícia Palmeira  do blog: Blog Afeto Literário

2 comentários:

  1. "...dose exagerada dos excessos" adorooo! rsrsrs.

    Saudades de você também mulher!Me manda e-mail?
    junascimento27@hotmail.com. Assim não perderemos contato, é muita coisa em comum que precisamos colocar em dia...rsrs.

    Beijão!

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  2. VOCÊ DEVIA SER FOTÓGRAFA.COMO VC CONSEGUE PEGAR OS ANGULOS MAIS FAVORÁVEIS SEUS?tIRE MINHA ÚLTIMA FOTO? ANTES QUE EU ENTRE EM ESTADO VEGETATIVO?

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Deixe aqui uma quimera...! Bom, muito bom tê-los por aqui!