O ex-padre que se tornou o mais famoso sedutor de todos os tempos foi também um gourmet requintado e minucioso cronista de sua época
Natália Rangel
Sedução
O ator Heath Ledger interpreta o conquistador italiano Giacomo Casanova no filme de Lasse Hallström que narra a vida de excessos e os grandes amores do bon-vivant
Numa noite de outono de 1793, o nobre veneziano Giacomo Casanova encheu os bolsos da calça e do sobretudo com pesos de chumbo e caminhou em direção à ponte de Westminster, em Londres - ia se matar. O homem de 38 anos, que nasceu pobre, frequentou seminário e conquistou as cortes europeias, estava falido após anos de devassidão e vida perdulária. Havia sido abandonado pela amante e temia estar infectado pela sífilis (adquirida nos bordéis de Covent Garden, na capital inglesa). Foi impedido de pular nas águas do Tâmisa por um companheiro de noitadas, o filho de um membro do Parlamento britânico, que o viu encostado à estrutura da ponte e o levou dali à taverna mais próxima.
Casanova (1725-1798) se recuperou dos problemas sentimentais e, em parte, também dos financeiros, mas não escapou ao diagnóstico da temida doença venérea. Deixou Londres e seguiu para Bruxelas, onde se submeteu a um tratamento à base de mercúrio e sangrias. A sua tristeza passou, voltou a exibir uma personalidade extravagante e vaidosa e só se deprimiu novamente nos seus últimos anos de vida - quando se isolou do mundo dos célebres e dos nobres para cuidar dos livros de uma pequena biblioteca em Dux, no interior da França.
Nessa época, redigiu as quatro mil páginas de sua conhecida autobiografia. É a partir desse material e de histórias colhidas em arquivos da Bélgica, França e Itália que o autor inglês Ian Kelly escreveu o livro "Casanova: Muito Além de um Grande Sedutor" (Editora Zahar). Trata-se de um meticuloso retrato do libertino que equilibra seus atributos de conquistador com as suas outras facetas menos conhecidas: a do padre, do gourmet, do alquimista e do cronista social.
A história é estruturada como uma ópera, dividida em cinco atos e quatro intermezzos (motivo recorrente). Entre os temas estão as viagens (ele viajou, de carruagem e a pé, 64 mil quilômetros pelos países europeus), a gastronomia, o sexo, a cabala e, naturalmente, a música. Casanova colaborou com Lorenzo Da Ponte, libretista do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, na composição da ópera "Don Giovanni". Suas anotações - que incluíam peças de teatro, enredos líricos e a tradução para o italiano de "A Ilíada", entre outros clássicos da literatura - foram encontradas em sua casa em Veneza, após a sua morte. Viajante compulsivo - por sinal, Casanova era compulsivo em quase tudo que fazia -, ele visitava com frequência as cidades de Veneza, Nápoles, Constantinopla, Paris, Amsterdã, Londres e São Petersburgo. E escrevia sobre o que via, fazia e comia nesses lugares.
É nesse sentido que o autor o descreve como um grande cronista social. Há poucos registros históricos tão detalhados da Europa dessa época como o que Casanova nos deixou. "Ele foi um importante historiador da gastronomia", escreve Kelly. E esse foi um dos últimos prazeres sensuais que lhe restaram quando começou a ter problemas de saúde. Era um expert e não diferenciava o amor pela comida do amor pelas mulheres. Usava inclusive a linguagem do amor e do sexo para descrever a comida e vice-versa: "Para os homens, fazer sexo é como comer, e comer é como fazer sexo: é nutrição...e da mesma forma como sempre existe um prazer diferente quando se experimenta diversos molhos." Sua autobiografia registra mais de 200 receitas de pratos, a indicação de pelo menos 20 diferentes vinhos de toda a Europa e muitas dezenas de iguarias e segredos perdidos da gastronomia. Em uma de suas dicas, fala sobre salpicar as massas com canela e açúcar.
Casanova não gostava da culinária britânica: sentia falta da sopa, hábito francês considerado pelos ingleses uma "extravagância parisiense insossa". Respondia que insossos eram os menus londrinos, que serviam apenas carne cozida e não se preocupavam com os acompanhamentos. "As refeições inglesas eram como a eternidade: não tinham começo nem fim."
Em suas aventuras sexuais, a comida estava sempre presente. "Comentei com ela sobre todos os pratos e achei tudo excelente: a caça, o esturjão, as trufas, as ostras e os vinhos. Só reprovei (o cozinheiro) por ter esquecido de colocar um prato com ovos cozidos, anchovas e vinagres aromáticos para que fizéssemos uma salada...Também disse que desejava laranjas amargas para dar sabor ao ponche, e que queria rum, e não arak." Essa anotação foi feita numa noite de amor com a freira M.M., descrita como "voluptuosa e bastante experiente" numa das passagens mais eróticas do livro.
"Casanova foi indagado se vira a ópera 'Don Giovanni'. Ao que ele respondeu: Se eu a assisti? Eu a vivi"
Trecho de "Casanova: Muito Além de um Grande Sedutor
Na sua forma de relacionar sexo com comida, ele chegava a excentricidades como misturar fios de cabelo de uma amante nos doces que eles iriam comer ao fazer amor. Ele descobriu um doceiro judeu que fazia confeitos cristalizados de "açúcar misturado a essências de ambergris, Angélica (tipo de licor), baunilha, alquermes e styrax". Segundo Kelly, pode ter se originado em suas noitadas a fama das ostras como afrodisíacas. O veneziano costumava dizer que não existe melhor molho para uma ostra do que a saliva da mulher amada. Os moluscos eram usados em jogos sexuais "educativos" com jovens inexperientes. "Não existe nada mais lascivo e sensual...", escreveu Casanova.
O jogo, explicava ele, consistia em passar mariscos vivos de uma boca para outra e depois comê-los sobre os seios e outras partes do corpo. Ao que o autor comenta, gaiatamente, que não deve ser tentado em restaurantes. Com seu estilo de mestre-cuca,
Casanova dá a receita para prolongar ao máximo uma relação sexual: "Uma taça de chocolate com as claras de seis ovos em uma salada preparada com óleo de Lucca e vinagre dos Quatro Ladrões."
À meu ver, seria interessante conhecer o Casanova...
Beijos e obrigada pelas visitas!
Tenham uma linda e emocionante semana!
Coisa mais estranha este artista suicidou-se sabia?Logo após a filmagem do Cavalheiro das trevas.
ResponderExcluirAmei a história do Padre Casanova e da luxuriante irmã madre MM...Que pena que não existia a piniscilina naqueles tempos, eu acho que as pessoas deveriam ser, e fazer o que bem quizer, mas ai vem uma merda de um microbio e estraga as noitadas dos coitados ,e das pobres mulheres de vida difícil.Fiquei triste imaginando um homem deste que legou a humanidade esse negócio de ser um bom amante tentar se suicidar com os bolsos cheios de chumbos ai que coisa mais triste!Vou comprar o livro.Adoro pessoas sacanas,sem vergonha tudo que eu nunca fui , gostaria de um dia na vida ter uma loucura destas pra saber como que é.Só umazinha uai!
E você ,é assim ,luxuria pura, a tua cara não engana nem um pouco D.ácida Lelê